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domingo, 12 de junho de 2011

As 3 formas do amor: Eros, Philos e Ágape.


Existem três palavras gregas para designar o amor – disse ele. – Hoje você está vendo a manifestação de Eros, aquele sentimento entre duas pessoas.

Os noivos sorriam para os flashes e recebiam cumprimentos.
(...) – Repare como é curioso – continuou meu guia. – Apesar de ser bom ou ser mau, a face de Eros nunca é a mesma em cada pessoa.
A banda começou a tocar uma valsa. As pessoas foram para um pequeno espaço de cimento em frente ao coreto para dançar. O álcool começava a subir e todos estavam mais suados e mais alegres. Notei uma menina vestida de azul (...) Seus olhos seguiam os movimentos de um rapaz bem vestido, de terno claro, que estava numa roda de amigos. Eles conversavam alegremente, não haviam percebido que a valsa tinha começado, e não notavam, a alguns metros de distância uma menina de azul que olhava insistentemente para um deles.(...). A menina de azul reparou meu olhar e saiu de perto. E como se todo o movimento estivesse combinado, foi a vez do rapaz procurá-la com os olhos. Ao descobrir que ela estava perto de outras garotas, voltou a conversar animadamente com os amigos.
Chamei a atenção de Petrus para os dois. Ele acompanhou durante algum tempo o jogo de olhares, e depois voltou ao seu copo de vinho.
– Agem como se fosse uma vergonha demonstrar que se amam – foi seu único comentário.
Outra menina olhava fixamente para nós dois: devia ter metade de nossa idade. Petrus levantou o copo de vinho, fez um brinde, a garota riu encabulada, e fez um gesto apontando para os pais, quase se desculpando por não chegar mais perto.
– Este é o lado belo do amor – disse. – O amor que desafia, o amor por dois estranhos mais velhos que vieram de longe, e amanhã já partirão por um caminho que ela também gostaria de percorrer. O amor que prefere a aventura.
Em seguida, continuou, apontando para um casal de velhos:
- Veja aqueles dois: não se deixaram contagiar pela hipocrisia, como muitos outros. Pela aparência deve ser um casal de lavradores: a fome e a necessidade os obrigou a superarem juntos muitas dificuldades. Descobriram a força do amor através do trabalho, que é onde Eros mostra sua face mais bela, também conhecida como Philos.
– O que é Philos?
– Philos é o Amor sobre a forma de amizade. É aquilo que eu sinto por você e pelos outros. Quando a chama de Eros não consegue mais brilhar, é Philos que mantém os casais juntos.
– E Ágape?
– Ágape é o amor total, o amor que devora quem o experimenta. Quem conhece e experimenta Ágape, vê que nada mais neste mundo tem importância, apenas amar. Este foi o amor que Jesus sentiu pela humanidade, e foi tão grande que sacudiu as estrelas e mudou o curso da história do homem. (...)Ágape é o Amor que Devora – repetiu mais uma vez, como se esta fosse a frase que melhor definisse aquela estranha espécie de amor. – Luther King certa vez disse que, quando Cristo falou de amar os inimigos, estava referindo-se à Ágape. Porque, segundo ele, era “impossível gostar de nossos inimigos, daqueles que nos fazem mal, e que tentam amesquinhar mais o nosso sofrido dia-a-dia.”
“Mas Ágape é muito mais que gostar. É um sentimento que invade tudo, que preenche todas as frestas, e faz com que qualquer tentativa de agressão se torne pó.
“Existem duas formas de Ágape. Uma é o isolamento, a vida dedicada apenas à contemplação. A outra é exatamente o contrário: o contacto com os outros seres humanos, e o entusiasmo, o sentido sagrado do trabalho. Entusiasmo significa transe, arrebatamento, ligação com Deus. O Entusiasmo é Ágape dirigido a alguma idéia, alguma coisa.
“Quando amamos e acreditamos do fundo de nossa alma em algo, nos sentimos mais fortes que o mundo, e somos tomados de uma serenidade que vem da certeza de que nada poderá vencer nossa fé. Esta força estranha faz com que sempre tomemos as decisões certas, na hora exata, e ficamos surpresos com nossa própria capacidade quando atingimos o nosso objetivo.
“O Entusiasmo se manifesta normalmente com todo o seu poder nos primeiros anos de nossas vidas. Ainda temos um laço forte com a divindade, e nos atiramos com tal vontade aos nossos brinquedos, que as bonecas passam a ter vida e os soldadinhos de chumbo conseguem marchar. Quando Jesus falou que era das crianças o reino dos Céus, ele se referia a Ágape sob a forma de Entusiasmo. As crianças chegaram até ele sem ligar para seus milagres, sua sabedoria, os fariseus e os apóstolos. Vinham alegres, movidas pelo Entusiasmo.
“Que em momento algum, pelo resto deste ano, e pelo resto de sua vida, você perca o ENTUSIASMO: ele é uma força maior, voltada para a vitória final. Não se pode deixar que ele escape por nossos dedos só porque nos enfrentamos, no decorrer dos meses, com pequenas e necessárias derrotas”.

Texto completo em: http://warriorofthelight.com/port/edi85_tres.shtml

Autor: Paulo Coelho (No livro: O diário de um Mago).

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